O Banco Central Europeu (BCE) emitirá, nos próximos meses, um trilhão de euros (repito, um trilhão de euros), a fim de comprar títulos da dívida pública no próprio continente. Em outros tempos, diríamos que vão pintar dinheiro. Nos dias atuais, vão economizar tinta e papel moeda, e simplesmente mudar uns Bytes nas bases de dados pertinentes. “Opus focus”, exclamariam os mágicos de salão: na cartola não havia nada, mas agora há um trilhão de euros novinhos em folha. Seja como for, acho que essa notícia fecha a equação do recente “pacote de maldades” do governo brasileiro, que beneficia os rentistas especuladores, em detrimento dos trabalhadores e empreendedores de verdade. Vejamos.
Aumentando a liquidez na Europa, os juros de lá cairão, e haverá mais dinheiro disponível para investir. Onde? Onde se ofereça maior rentabilidade como o mínimo de riscos. Bingo! O capital excedente, tornado especulativo, virá ao Brasil se multiplicar facilmente, para voltar à Europa e aliviar o arrocho deles.
Conforme explicado no post anterior, os nossos juros altos se sustentam à custa de privações para o nosso povo, com os mais pobres, claro, levando a pior. Por outro lado, a alta dos juros no Brasil vem a calhar ante o surto de generosidade do Banco Central Europeu, pois abre mais espaço para investimentos rentáveis e seguros, em um período de incertezas mundo afora. Conclusão: as nossas privações farão a alegria dos mercados no Velho Continente, pois o pacote de maldades daqui casa direitinho com pacote de bondades de lá – uma espécie de transfusão de sangue, em que o faminto doa ao bem alimentado.
Há muitos anos, uma pessoa experiente, do interior da Bahia, ensinou-me que “o cavalo morre para a alegria dos urubus”. E qualquer semelhança com os séculos de exploração colonial não será mera coincidência.
Incrível… Um ótimo trabalho, sr. Cláudio!
Prezado Fábio,
Muito grato pelas palavras.
Meu argumento, sucinto, talvez omita detalhes técnicos importantes. Contudo, penso que a ideia central se sustenta: de certa forma, o processo de exploração colonial no Brasil prossegue, em mutação, após 500 anos. E não vejo, na Grande mídia ou no discurso dos partidos, qualquer referência substancial ao tema.
Com toda a certeza.
Já temos uma cultura de exploração enraizada na nação, então a retenção de informações e o excesso de “Biguebróders” na mídia geram a mistura linda que chamamos de Brasil hoje.
De todo modo, estou ansioso para o próximo post. Estarei no aguardo! E parabéns pelos incríveis artigos!